Era madrugada e ele veio até nós pedindo ajuda.
Estávamos na rua fazendo o trabalho de sempre, de conversar
e ouvir pessoas. Levado uma palavra de Paz. Naquele canto, onde haviam homens
sem destino, perdidos e desnorteados em meio à sua miséria, ele veio.
Usava muletas, não tinha mais uma das pernas. Chamou-nos no
canto para conversar à parte. Seus olhos verdes estavam inquietos, não nos
olhavam no rosto. Seu rosto sujo não conseguia disfarçar a pouca idade. Era
claramente mais jovem que eu. Tentava nos falar enquanto olhava inquietamente
para os lados como se estivesse aflito, esperando por alguma coisa.
Ele pediu oração por sua filha. E de um canto embaixo
daquela marquise ele tirou uma pasta. No meio daquele lugar que não havia nada
além de sucata e drogas, ele lançou mão de uma ultrassonografia! Ele estava com
as primeiras imagens da filha guardada com ele naquela calçada. Não havia quase
nada com ele, na rua, além daquela pasta.
Fiquei espantado e atônito enquanto ele tentava se
comunicar, mas suas palavras mal saíam da boca. Subitamente olhou para um
canto, chamou por alguém e pediu que lhe guardasse seu “cachimbo”. Empunhou
novamente as muletas e saiu apressadamente para seu colega de rua. Saiu
interrompendo a conversa como se ela jamais tivesse acontecido. Do nada foi
embora e nos deixou plantados e atônitos, como se o momento se desfizesse em
nossa frente em questão de segundos.
Momentos depois, meu amigo que estava naquele momento comigo
me olha e diz: “Essa é a realidade Thiago. Os outros jovens não estão nem aí
pra isso”. Contendo emoção, continuei nosso caminho, andamos noite à fora, mas
desde aquele dia algo lateja em minha mente: “Aquele, era um pai!”.
PERFEITO! *___*
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