terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Aquele Natal

O dia amanhecera nublado naquele dia, às vésperas de algum Natal dos anos 80.

O homem abre a porta e sai com seu filho de aproximadamente 5 anos e na mesma hora a vizinha, dona Cecília abre a porta do seu apartamento, olha para o corredor e os chama.

Dona Cecília era uma senhora viúva que morava no apartamento de frente naquele prédio antigo, no centro da cidade. Um edifício da época em que os apartamentos era espaçosos. Animada, Dona Cecília mostrou ao homem e ao filho seus doces de Natal que começara a vender.

Ao entrarem, a criança se deparou com o sofá forrado de chocolates coloridos de formatos diferentes envoltos em seus plásticos transparentes e fitas coloridas. Eram muitos! Eram lindos! Era uma cena esplêndida!

A senhora gentil logo foi mostrando dos chocolates, um por um, seduzindo os olhos brilhantes da pobre criança.

Seu pai, perguntou se queria um, porém algumas coisas se passaram pela mente do menino. Pensou em quantas vezes foi privado de comprar as coisas que queria por falta de dinheiro. Lembrou de ter sido ensinado a recusar coisas de outras pessoas por educação. Lembrou-se das vezes em que seus pais diziam "agora não, mas outro dia eu compro".

Em uma das primeiras vezes de sua vida que renunciou à própria vontade, o menino resolveu recusar. Após alguma insistência, o pai e o filho saem do apartamento, se despedem, entram no elevador e saem do prédio. Na rua, de mãos dadas com seu pai, o menino olha para cima e pergunta: "pai, quando você tiver dinheiro, você compra um daqueles para mim?".

Naquele momento, o homem pára no meio de rua surpreso. Quase dava para ouvir os cacos do coração partido de ternura cair no chão. Animado, o homem dá meia volta e os dois retornam ao apartamento de Dna. Cecília para comprar um chocolate. O menino olha para o sofá forrado e em meio à tantas coisas, com  dúvida, escolhe uma arvorezinha de natal. Um chocolate com amendoim, coberto de glacê colorido.

Felizes, o homem e seu filho voltam a seus afazeres do dia.

Jamais esqueci do gosto daquele chocolate de natal, parece ainda estar na minha boca. Uma das poucas memórias da tenra infância e das coisas que me marcaram. Coisas que para mim se tornaram o sentido do Natal. Paternidade, amor, beleza, humildade e compaixão.

Feliz Natal para você.


Um comentário:

  1. Blog encantador,gostei do que vi e li,e desde já lhe dou os parabéns,
    também agradeço por partilhar o seu saber, se achar que merece a pena visitar o Peregrino E Servo,também se achar que mereço e se o desejar faça parte dos meus amigos virtuais faça-o de maneira a que possa encontrar o seu blog,irei seguir também o seu blog.
    Deixo os meus cumprimentos, e muita paz.
    Sou António Batalha.

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