quarta-feira, 27 de março de 2013

De passagem...

Foi uma noite atípica. Uma experiência incomum no meio da semana.
Eramos dois jovens procurando um caminho, dirigindo em meio à chuva leve que caía naquelas primeiras horas da noite de quarta-feira, no município vizinho. Ao chegar, encontramos outros dois jovens. Dois jovens sonhadores. Jovens que outrora encontravam-se em um centro de reabilitação para dependentes químicos e hoje encontram-se novamente em outro centro, porém em uma diferente e nobre posição.

A República Quatro Barras é uma instituição filantrópica que dá abrigo à pessoas com dependência química, andarilhos, moradores de rua e todo aquele que necessitar de ajuda e quiser mudar de vida. Não é uma centro de internação e sim, uma "casa de passagem". Se for escolha da pessoa, ela poderá permanecer até ser curada fisicamente, mentalmente e espiritualmente. Oferecem pouso, alimento, ajuda com documentação e emprego. Se não quiser, seguirá em frente.

Naquela noite, estávamos meu amigo Rafa e eu conhecendo cerca de 8 "internos". Histórias de milagre e restauração. Desde Jonas, o cachorro fujão, que chegou maltratado e hoje está forte e bonito, até homens que até pouco tempo eram tratados de igual forma e hoje galgam a reconquista da dignidade. Histórias como a do seu Zé, que mesmo na sua velhice vivenciou um milagre e um recomeço: quase nove anos em uma cadeira de rodas, e há poucos dias já começou até a andar de bicicleta. História de jovens como Rafael, o recém empregado.

De repente, chegou mais um homem à casa. Um andarilho que percorreu quase o país inteiro à pé, segundo seu relato embriagado. Desatinou a falar com seu forte sotaque nordestino e suas palavras de sabedoria popular, divertindo a todos com seus comentários. Tomou banho e depois sentou-se conosco para o café.

Nos sentamos e comemos com eles. Naquele momento percebi a pureza e a profundidade do evangelho e seu infinito poder de transformação. Eram homens marcados por uma vida ingrata. Mãos calejadas, cicatrizes, rostos cansados. Porém, o olhar trazia o brilho de uma nova vida. Sorrisos de quem já sofreu demais para continuar chorando. Pessoas a quem evitamos se acaso encontrarmos na rua, mas que foram abraçadas e amadas outra vez. Foram aceitos e souberam aproveitar a oportunidade e agarraram-na com fé. Homens restaurados.

Meu amigo Rafa compartilhou uma mensagem divina naquela noite e pudemos nos dar as mãos para orarmos juntos, como irmãos, sem diferenças. Apenas corações. Roupas surradas, camisas de marca. Conhecimento acadêmico e experiências de vida. Eloquência e linguajar indouto. Todos nivelados ao único critério vindo do céu, diretamente do olhar do Único Digno de julgar e pesar os corações: o critério da graça; Da alma inteiramente voltada à Ele. Uma lição de vida que me pegou de assalto, que ampliou minha visão.

E no fim, não somos nada, não é verdade? Estamos apenas de passagem...



terça-feira, 5 de março de 2013

Um de nós?

Uau! Quanto tempo!
Cá estou eu de volta... quase espirrando com a poeira, removendo teias de aranha. Fazia tempo não escrevia nada. Bem, acho que vou mudar um pouco esse layout... Ver o que estava guardado... Quem sabe eu consiga por as coisas em ordem e voltar à ativa. O que posso dizer é que voltei aqui motivado por um texto quase pronto na minha cabeça. Apenas uma canção na minha mente e uma série de coisas a dizer há muito tempo. Bem, sejamos todos bem-vindos de volta, pelo menos por enquanto! rsrs

"Um de Nós?"

Já faz um tempo que relembrei essa música que ouvi quando ainda criança. Quando realmente parei para ler a letra, algo intrigou e me fez pensar em diversas considerações.

A letra está em http://letras.mus.br/joan-osborne/29618/traducao.html


Bem, sobre a música:
Não encontrei nenhuma intensão herética explícita dos autores, mas sim um pensamento humano. Uma divagação de uma mente criativa. Certamente não há intensão nenhuma de ser música religiosa ou algo do tipo. É tão somente o fruto da mente de um artista que ganhou o mundo nos anos 90. O maior sucesso desta cantora que hoje não tem holofotes e não canta pop, porém ganhou Grammy de melhor álbum de Blues deste ano.

Voltando à letra, parece um tanto petulante aos olhos de um "crente", mas não é a partir de uma visão teológica que quero falar. Tão pouco valeria a pena falar sob aspecto bíblico, uma vez que, como já disse, não é nada além de expressão humana descompromissada com a religião. Mas mergulhando nesta expressão, tentando embarcar na divagação do compositor, tentando olhar para o contexto, eu pensei em coisas que me fizeram refletir sobre esta humanidade impressa na obra.

Humanidade. A humanidade em Deus. Não concordo que se Deus estivesse aqui e agora estaria perdido tentando voltar pra casa, mas a ideia de Ele estar entre nós, com aparência talvez desajeitada, em um ônibus, desta visão sim eu gosto. Esta sim é uma visão pertinente e nós nos esquecemos dela. Tentamos projetar um deus de acordo com o que achamos conveniente ou bonito. Há milhares cristãos que projetam um deus que talvez nem exista.

Pense em um homem dentro do ônibus ou metrô, calado, compenetrado que se distrai sorrindo para uma criança. Alguém no supermercado escolhendo produtos de segunda linha... Bebendo água no parque depois de uma caminhada. Um ser humano qualquer, feio, de mãos calejadas, aparência pobre e rosto sereno. Na fila do banco, no banco da igreja, ou quem sabe em uma esquina falando com o mendigo (essa cena me agrada mais que a da igreja). Este poderia ser o próprio Deus. Ele não apenas poderia ser um de nós como ele foi um de nós! Ele estava por aí andando e se fosse hoje estaria no ponto ônibus, na rua, no banheiro público!

Ele foi um de nós e caminhou por entre nós. Porém, não demos muita importância, aliás o evitávamos (Isaías 53:3). Deus foi um de nós através de Jesus. E eu gosto muito de uma visão onde está nos becos, nos guetos, nas lojas, no shopping ou em baixo da ponte, conversando com todo tipo de gente. Prostitutas, empresários, professores. Malabaristas de semáforo, traficantes de drogas e patricinhas. O diferencial eram as palavras que saíam da sua boca. Eram suas atitudes. Nasceu como anônimo, mas jamais conseguiria continuar como tal. Sua passagem pelo mundo foi notável em cada passo, em cada sorriso e em cada atitude que intrigava e polemizava. Este era Cristo. Este é Cristo. E Ele ainda está entre nós, em cada um de nós e por nós. A sua igreja olha para fora e não apenas para dentro de si mesma.

Bem, em uma coisa eu concordo plenamente com o autor da música:

Yeah, yeah, God is great
Yeah, yeah, God is good!